Saúde mental nas catástrofes
Por Marcelo Feijó de Mello
Nós brasileiros somos muito críticos com relação a nós mesmos, mas em situações de catástrofes é notável sempre uma grande solidariedade. Solidariedade, que vem do latim, significa dar apoio e tornar sólido, é a base da reconstrução da saúde mental de pessoas que passaram por uma catástrofe. A solidariedade vem da empatia, que sentimos ao ver o próximo em sofrimento, nada mais humano. A caridade e o amor ao fazermos algo pelo outro, nos nutre de felicidade.
Esta economia afetiva em catástrofes é a base, mas poderia ser mais bem direcionada, através do conhecimento científico. Todos os afetados pelos desastres sofrem, e a grande maioria será resiliente com a oferta de cuidados básicos de conforto, como um teto com uma cama quente, banho, roupas limpas, alimentação e água. Tudo isto percebido que está recebendo através da solidariedade da sociedade. Se sente acolhido.
A oferta de informações corretas, através de uma central atuante, acessível e rápida de comunicação sobre as situações de seus familiares e amigos, além de suas moradias e negócios é fundamental, pois além do trauma do momento da catástrofe, as incertezas são fontes de muita angústia. Neste ponto, aqui é importante o cuidado com as coberturas jornalísticas, e atualmente com a reprodução maciça nas mídias de cenas da tragédia, e de depoimentos de vítimas e testemunhas. Além de muitas vezes não serem informações confiáveis, vão criar naqueles direta e indiretamente relacionados ao desastre um aumento na angústia, que podem quebrar sua resiliência e levar ao adoecimento mental. Muitos jornalistas carecem de um treinamento para trabalharem nestas situações.
A reverberação dos temas sobre os desastres, ou estimular vítimas a falarem ou ouvirem sobre eles causam prejuízos na elaboração psicológica. Contudo, este erro é feito em muitas situações de catástrofes por profissionais da área de saúde mental que se voluntariam para atender as vítimas, que apesar da boa intenção podem prejudicar, e aumentar as chances de adoecimento mental. Este é um momento de conforto e cuidados, os profissionais devem avaliar cada pessoa e intervir, mais especificamente se detectarem sinais de psicopatologia, nos demais apoio, técnicas suportivas e de relaxamento são as mais indicadas.