TRAUMA E SOMATIZAÇÃO
Não demorou muito tempo para o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) entrar para a lista de patologias relacionadas a processos inflamatórios crônicos e que podem trazer enorme repercussão biológica para o paciente. Isto implica em envelhecimento precoce e vulnerabilidade para doenças somáticas.
A pesquisadora norte-americana Raquel Yehuda, uma das maiores especialistas em TEPT propõe uma nova classificação deste transtorno levando em consideração as repercussões somáticas do quadro, especialmente os processos inflamatórios.
A relação entre TEPT e dores crônicas, alterações hormonais, doenças autoimunes, doenças cardio-metabólicas, endócrinas, neoplasias, processos demenciais, sintomas gastrointestinais e doenças reumáticas já está bem documentada. Distúrbios do sono também fazem parte dessa vulnerabilidade. Vivências traumáticas relacionadas a conflitos armados, violência doméstica, catástrofes ambientais e ataques terroristas estão entre as situações que mais contribuem para essas manifestações somáticas decorrentes do TEPT. Casos que se tornam crônicos apontam também para uma perpetuação das manifestações somáticas.
É importante lembrar: habitualmente pensamos em quadros de TEPT como decorrência de eventos traumáticos abruptos. Mas o TEPT também pode advir de um estresse crônico que ultrapassa o limite do indivíduo. Este se quebra em sua estabilidade, abrindo um quadro pós-trauma. O estresse crônico também é um dos maiores geradores de transtornos somáticos.
Além de quadros decorrentes da ruptura traumática é muito importante o mapeamento prévio dos doentes com TEPT. Pacientes com patologias somáticas anteriores têm aumentada a vulnerabilidade para piora desses mesmos quadros pela sintomatologia típica do TEPT, especialmente o medo, o desânimo e a fadiga crônica.
Mais ainda, há evidências que os quadros somáticos sobrepostos ao TEPT podem dificultar a recuperação do paciente. As razões são várias: esgotamento do organismo, que perde a capacidade funcional, uma lembrança biológica constante de fraqueza do funcionamento habitual, percepção de má adaptação pós-trauma e uma lembrança de ameaça permanente.
Por fim, o tratamento do TEPT exige um projeto terapêutico psicossocial, mas também um olhar clínico mais completo, especialmente quando manifestações somáticas são prévias, concomitantes e persistentes ao quadro traumático.
José Paulo Fiks.