FUTEBOL E TRAUMA PRECOCE
Por José Paulo Fiks
Em tempos de copa do mundo de futebol os sentidos parecem fazer o mundo girar em torno de uma bola.
Mas no campo da mente é interessante refletir como o futebol pode se transformar em um importante aliado para a promoção da saúde mental de jovens expostos ao trauma precoce e à vulnerabilidade social.
Os resultados promissores de uma recente e interessante pesquisa traz esperança para essas populações urbanas.
Um projeto de implementação escocês conhecido como Esporte para o Desenvolvimento (SfD) selecionou jovens com altas taxas de exposição ao trauma (sem-teto, imigrantes, refugiados, dependentes químicos, situação de pobreza, violência doméstica).
A articulação entre jogos de futebol de rua (Street Soccer) e uma educação voltada para o conhecimento científico sobre traumas conseguiram cultivar o crescimento e a resiliência.
Os resultados quantitativos positivos foram complementados com as narrativas colhidas com 16 jogadores que passaram pelo projeto.
Para estes o programa foi considerado um “ponto de virada” em suas vidas, conectando esporte, promoção de saúde e interação social.
O método principal adotou “práticas informadas sobre trauma que promovem o crescimento e a resiliência por meio de fatores internos (autorregulação, resolução de problemas, autoestima), externos (segurança, estabilidade, brincadeiras, inclusão, relacionamentos) e ambientais”.
A população em situação de rua no Brasil tem crescido assustadoramente, incluindo jovens. Boa parte deles passou por experiências traumáticas precoces. O futebol é uma paixão nacional. Projetos como o descrito podem ser esperançosos para nossa triste realidade.
Narratives of trauma and resilience from Street Soccer players, February 2021. Qualitiative Research in Sport 14(2):1-18. Meredith A. Whitley et al. DOI:10.1080/2159676X.2021.1879919