A HONRA DE WILL SMITH

By 29 de abril de 2022 TEPT

A HONRA DE WILL SMITH

Por José Paulo Fiks

Boa parte da humanidade foi surpreendida com o tapa que o ator Will Smith deu na face de seu colega Chris Rock, que apresentava a cerimônia de premiação do último Oscar.

Ânimos apaziguados, Smith “cancelado” e afastado da “academia” do Oscar por dez anos, noticiários sobre o evento já minguando… ainda temos bastante a refletir sobre o evento, especialmente no campo da violência e do trauma.

Após o ataque Will Smith alegava de seu lugar na plateia, aos brados – e muitas agressões verbais – que agira em defesa de sua esposa, a atriz Jada Pinkett-Smith, humilhada por piadas de mau-gosto proferidas por Rock.

A atitude de Smith pode ser entendida pelo conceito de HONRA. Desafiar, revidar um ato entendido como ataque e humilhar. Zelar pela honra é um ato de imposição de autoridade habitualmente via violência.

Em nome da honra duelos foram tolerados, transformados em eventos públicos, isentando assassinos, especialmente aqueles da nobreza europeia. Mas esses espetáculos terminaram no século 19. Como isto ocorreu? Pelas revoluções morais. Segundo o filósofo anglo-ganês Kwame Anthony Appiah – em seu livro O código de honra: Como ocorrem as revoluções morais (Cia das Letras, 2012) – a “defesa da honra” encontra motivações em nossos papeis sociais, moldando nossos afetos e atitudes. Como humanos precisamos do reconhecimento e do respeito do outro.

Etnias, sexualidade, nacionalidade, religião e todo o tipo de identidade social passaram a ser questões permanentemente discutidas após a virada do século 19 para o 20 e felizmente transformadas gradativamente em direitos, leis.

A honra não justifica mais ataques ou defesas. Mas ainda situações que envolvem esse conceito ocorrem, como no evento do último Oscar.

LEMBRANDO: qualquer ato de agressão pode gerar quadros do campo traumático, seja para a vítima agredida, seja até mesmo para o agressor.