COMO O TEPT PODE SER TRATADO?
A grande maioria dos quadros da clínica psiquiátrica já possui um guia de tratamento bem estabelecido, passo a passo. Transtornos bipolares, depressões, esquizofrenia e os diversos tipos de transtornos ansiosos têm indicação para medicações específicas e linhas de psicoterapia, todos de eficácia já comprovada.
Não é o que acontece com a clínica do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Talvez por tratar-se de uma patologia razoavelmente nova – 40 anos é pouco em comparação com doenças descritas ainda no século 19 – o TEPT tem como indicação de psicofármacos com resultados que podem ser considerados ainda pouco promissores. Geralmente são utilizados antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor conforte a apresentação dos casos, sempre valorizando os quatro principais sintomas do quadro: intrusão de memórias traumáticas, a revivescência, a hipervigilância e a anedonia.
A psicoterapia tem papel preponderante para o bom prognóstico de quadros traumáticos. Em geral, os casos de TEPT têm indicação como fases da psicoterapia três etapas:
- A primeira, de um empenho no conforto do paciente. Isto envolve sua proteção em relação a ambientes adversos e a proteção com medicação.
- Uma segunda etapa é a da reconstituição da história traumática. Mas isto depende muito da apresentação do quadro e da avaliação dos riscos de uma retraumatização, que pode acontecer até com a narração do evento traumático. Neste momento devem ser trabalhados cuidadosamente os afetos, a memória e a cognição. Para o trabalho com os afetos, um mapeamento das emoções (os afetos mais imediatos, desencadeados pela vivência traumática) e os sentimentos (afetos mais antigos e aqui no caso “negativos” retomados pelo quadro) pode servir de base para o enfrentamento de situações que lembrem a atmosfera da experiência traumática. O trabalho de memória serve para reconhecer o que foi modificado com a experiência traumática pelo olhar do que pode ou não ser recuperado. O exame da cognição aborda predominantemente pensamentos que são elaborados a partir da vivência traumática, geralmente no campo da culpa e da vergonha.
- A posição de “sobrevivente” deve ser lembrada a todo o momento, bem como a possibilidade de reinvenção para uma nova e saudável etapa de vida. Isto envolve a interação do sujeito adoecido pelo trauma com o ambiente.
Segundo a pensadora alemã Hannah Arendt a condição humana envolve reconhecimento de potenciais e vulnerabilidades biológicas, muita reflexão e a interação no ambiente social, que confirmam nossas ideias ou estimulam correções. Esta forma de conceber a aventura humana pode ser um bom eixo de proposta para o tratamento do TEPT.
José Paulo Fiks.