ESTUPRO COMO ARMA DE GUERRA
Por Cecília Zylberstajn
Em seu último livro, Truth and Repair, lançado ano passado, Judith Herman, uma das vozes mais importantes sobre trauma na atualidade, escreve que “em guerras a prevalência de estupro aumenta pois os combatentes usam o estupro como uma ferramenta de conquista e limpeza étnica, como um meio de humilhar o inimigo desonrando suas mulheres e meninas (e as vezes seus homens e meninos também” (tradução livre).
Existem evidências históricas de estupros em massa desde a antiguidade, mas segue presente até os dias atuais. Como recentemente citada aqui no Blog, Nadia Murad expos a violência sexual que ela e outras mulheres da minoria iraquiana Yazidi sofreu pelo grupo terrorista ISIS. Durante a guerra da Ucrânia, tropas russas cometeram atos de violência sexual contra meninas, mulheres e idosas. Mais recentemente, nos atentados de 7 de outubro de 2023, terroristas do Hamas estupraram, mutilaram, torturaram e mataram mulheres israelenses. Há relatos também de violência sexual entre as reféns.
A violência é sempre uma tríade: existe o agressor, o agredido e a testemunha. Esta última tem suma importância para o desfecho da violência: A testemunha não precisa fazer esforço para ficar do lado do agressor, basta ela não fazer nada. Por outro lado, colocar-se ao lado do agredido exige esforço e coragem.
Herman explora em seu livro a importância para os sobreviventes de violência que a verdade venha a tona como parte do processo de reparação. Os sobreviventes precisam de reconhecimento, do olhar compassivo da testemunha.
Nadia Murad conseguiu um premio Nobel da Paz em 2018. Seu ativismo fez com que se inaugurasse um memorial Yazidi no Iraque. Pramila Patten, representante especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Violência Sexual em Conflitos, visitou a Ucrânia em 2022 e esteve em Israel semana passada. Para as vítimas, é de extrema importancia esse reconhecimento dos Orgãos Internacionais como um testemunho que amplifica sua voz. O desejo é sempre de responsabilização e reparação dos atos cometidos e da esperança de que nenhuma vítima mais seja feita.
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