UM NOVO SENTIDO PARA O AFETO
Por José Paulo Fiks
Desde seu livro O erro de Descartes há quase 30 anos o neurocientista português António Damásio radicado nos Estados Unidos se debruça sobre o conceito de consciência. Neste seu primeiro livro de divulgação Damásio criticava teorias biológicas que desprezavam o afeto. O erro seria considerar uma razão desconectada do organismo e os estímulos sobre este.
Do afeto Damásio foi se deslocando para estudos sobre a consciência, conceito que se transformou em um dos maiores desafios para os cientistas, sempre articulando neurociência, psicologia, a cultura e a filosofia.
Em seu mais novo livro (SENTIR & SABER: AS ORIGENS DA CONSCIÊNCIA, Ed Cia das Letras) o pesquisador e generoso divulgador de seus resultados mais recentes escreve de forma mais clara ainda, com 46 capítulos de pouco mais de uma página.
O livro é dividido em três partes. A primeira trata da inteligência e como esta foi apropriada pela experiência humana. A segunda reflexão é sobre a capacidade de sentir. Desde a função puramente neurológica até o afeto, na forma que Damásio entende como mente. Na terceira parte, a consciência: “aquilo que o cérebro nos proporciona experiências mentais que associamos inequivocamente ao nosso ser – a nós mesmos”.
O autor deixa claro: ainda não temos todos as respostas. Mas a junção de achados científicos e a capacidade de fazer novas hipóteses a serem testadas nos trazem muitas conclusões sobre o mistério da consciência.
Para o campo do trauma psíquico a consciência é um conceito fundamental. Muitos dos quadros pós-traumáticos têm início após experiências em que a consciência é afetada exatamente pela vivência. São as chamadas dissociações, fenômenos que podem acontecer logo após as vivências do trauma ou perdurarem por longo tempo. Conhecer o funcionamento – e o desligamento – da consciência é fundamental para prevenir e tratar transtornos causados pelas experiências traumáticas.