UM PASSADO INCANDESCENTE
Por José Paulo Fiks
Acaba de sair no Brasil o livro “Dores Reveladas”, de Sergio Niskier e Danielle Goldrajch. Precioso pelo tipo de pesquisa rara por aqui. A obra reúne relatos e avaliações psiquiátricas que aguardaram cerca de 60 anos para serem reveladas. Foram colhidas depois de um contrato do governo alemão para fazer as perícias médicas que serviriam de base para os processos indenizatórios e de tratamentos psiquiátricos de sobreviventes do Holocausto.
O material é analisado cuidadosamente segundo os dados coletados pelo psiquiatra designado na época, que incluía a vida anterior ao surgimento do Nazismo, como foi a vivência de sua instalação, todo o tipo de depoimento sobre a vida nos guetos e campos de concentração, as experiências de perdas e testemunhos das atrocidades. Também há vários registros e análises sobre a chegadas desses refugiados no Brasil, sua acolhida e como se encontravam do ponto de vista psicopatológico, com cuidadoso exame psíquico no momento das entrevistas.
Todo o material leva em consideração os trabalhos da pesquisadora americana Rachel Yehuda, pioneira neste tipo de estudo e que incluiu o diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) concebido no início da década de 1980.
O livro vai mais além e examina a questão da conivência do povo alemão, os que “deixaram acontecer o Nazismo”, especialmente pelo “esquecimento da empatia” e a permissão às várias formas de violência oficializadas pelo regime nazista.
O livro só foi possível porque o Dr. Oswald Moraes de Andrade médico responsável da época manteve todos os documentos originais, incluindo suas avaliações como psiquiatra. Agora eles seguirão para o acervo do Memorial do Holocausto de São Paulo.