VIOLÊNCIA DE GRUPOS
Por José Paulo Fiks
O psicanalista Contardo Calligaris falecido em 2021 gostava de compartilhar com leitores de jornal, programas de televisão e até em seriados de streaming suas análises sobre a sociedade.
Ele trabalhou por décadas em uma tese complexa, atual e que só agora é publicada em livro.
O grupo e o mal: Estudo sobre a perversão social (Ed. Fósforo) ilumina fatos recentes que envolvem a violência destruidora provocada por multidões.
Calligaris focou seu estudo na adesão de alemães “comuns” ao nazismo e, depois, à máquina de extermínio contra judeus, ciganos, homossexuais e divergentes políticos durante a Segunda Guerra Mundial.
Para o psicanalista, o maior desafio é entender como pessoas que não possuem nenhum passado de agressores começam a agir de forma cruel, destrutiva, formando uma massa totalmente dirigida e identificada com um guia que estimula a pura barbárie.
Calligaris se apoia na teoria psicanalítica para propor quatro comportamentos que servem de base para compreender uma atitude que se transforma em uma onda gigantesca e contagiante de aniquilamento promovida por grupos:
– Submissão a um líder que oferece um projeto tentador e supostamente organizador de vida;
– Proteção contra uma culpa ou vergonha,
– Puro masoquismo ou,
– Simplesmente o prazer de servir ao outro.
Lembrete de Calligaris: um fenômeno social não deve ser interpretado como patologia. Sua proposta é de um entendimento clínico deste tipo de agressor, mas que não o isenta da responsabilidade pelos atos bárbaros.
É importante lembrar: todo esse raciocínio só serve para o tratamento e quando há um reconhecimento por parte do agressor, uma vontade de mudar.
Lembrete deste autor: qualquer ato cruel pode trazer consequências devastadoras ao agredido, levar ao trauma psíquico e à doença mental, especialmente o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, quadros de ansiedade e a depressão.